Em torno dos quatro anos de idade, o
menino encontra-se libidinosamente ligado à
mãe. O pai intervém nesta relação e se
transforma em rival. Depois, deste momento, o
menino passa a interiorizar as características
masculinas paterna, tanto quanto seu objeto de
desejo, as mulheres.
Freud explica a homossexualidade
masculina como sendo uma saída negativa do complexo de Édipo, ou seja, o pai, sem
conseguir impor limite à relação do filho com a mãe, não permite que este se volte para
a característica paterna. No lugar disso, interioriza as características femininas da mãe,
inclusive o seu objeto de desejo, o homem.
A homossexualidade masculina, assim, ocorreria quando o sujeito, ao final do
complexo de Édipo e à altura em que deve suprir a mãe por outro objeto de desejo,
produz uma inversão, ou seja, o menino passa a afeiçoar-se com a mãe e dirigir-se a
objetos que assumiriam o lugar antes ocupado pelo seu próprio eu, sobre os quais, a
partir deste momento, ele pode investir o mesmo amor que sua mãe até então investira
nele próprio.
Freud também explicou a homossexualidade masculina pela aversão aos órgãos
genitais femininos, consequência de um complexo de castração intenso demais para ser
entendido por completo pelo psiquismo do menino.
Não podemos esquecer que Freud viveu em uma sociedade extremamente
conservadora, em um momento de supervalorização da criação, da produção científica e
das fábricas. A conceituação do masculino, altamente valorizado e necessário, nesta
época, era a do ativo, do produtor. A teoria freudiana traz consigo o ranço desta época.
Uma época em que o corpo humano foi dividido, cartesianamente, em uma dualidade
homem-mulher, macho-fêmea. Aqui só havia um sexo, o masculino, sobrando às
mulheres, o corpo úmido e incompleto que encontrou, na fragilidade, um empecilho em
seu desenvolvimento.
Esta teorização levou à reduzida crença de que a homossexualidade masculina
significava passividade que, por sua vez, era entendida como feminilidade, ou seja, um
trauma. Assim, os homens que são homossexuais passaram a ser negados ao território
da masculinidade e reformulados como mulheres falsificadas.
Mais do que isso, lembremos que, para Freud, uma sexualidade sadia é aquela
em que os genitais encontram-se a serviço da reprodução, sendo esta a última fase pela
qual passa a organização da sexualidade.
Por meio desta visão, ainda vemos analistas, em seus consultórios, sustentarem o
gênero heterossexual como natural, inviabilizando, desta maneira, a apreensão total da
natureza e da experiência de gênero. Precisamos ir além de permitir ao paciente a
estruturação de um sistema de valores. Nós, os profissionais de saúde mental,
precisamos olhar de forma ampla ao desenvolvimento da sexualidade. Isto não significa
isolar a necessidade da cultura e suas normas sociais, mas distinguir o normativo do
natural, de suma importância em nosso trabalho.